O que Privacidade Hackeada da Netflix não te conta

Quão estranha é a nossa relação com a tecnologia? Às vezes parece que o computador nos conhece melhor que a nossa família. Estamos sendo espionados? Estamos sendo perseguidos? Essas são perguntas normais, hoje em dia.

Depois do escândalo da Cambridge Analytica (CA) em 2016, você pode estar se sentindo manipulado pela tecnologia e por seu governo. Antes, talvez você não pensasse sobre seus dados. Mas agora percebemos que nossos dados são um produto que está sendo vendido para ganhos políticos e econômicos.

Está com medo de deixar seu notebook ligado?

Antes de destruir seu notebook, vamos ver como os direitos sobre nossos dados estão mudando para melhor.

Como a Cambridge Analytica feriu os direitos dos nossos dados (com ajuda do Facebook)

O escândalo Facebook-Cambridge Analytica: qual é o problema?

Depois do escândalo da Cambridge Analytica em 2016, as gigantes tecnológicas Facebook, Google e Amazon ficaram em maus lençóis. Mas, antes de seguir os passos de Elon Musk e deletar nossas contas no Facebook, vamos investigar esse escândalo a fundo fazendo algumas perguntas.

O que é Cambridge Analytica?

Cambridge Analytica costumava ser uma firma britânica de marketing político criada em 2014. A empresa foi formada pela SCL (Strategic Communications Laboratories), uma empresa com base em Londres. SCL era conhecida por trabalhar em campanhas políticas e militares em todo o mundo. Dizem que a Cambridge Analytica foi criada para focar na campanha dos EUA.

A empresa utilizou os dados de previsão e análises para mudar o comportamento das pessoas. Eles são famosos por serem a empresa que explorou os dados das pessoas para corromper as eleições, em particular as eleições dos EUA de 2016. Supostamente manipulando os americanos a votarem no Trump através do bombardeamento de notícias enviesadas para modificar a maneira com que as pessoas enxergam o mundo.

Qual era o envolvimento do Facebook?

O Facebook especificamente tem estado sob vigilância popular nesse escândalo porque eles foram a fonte dos dados para a Cambridge Analytica. CA tinha aplicativos no Facebook que, secretamente, pinçavam dados não apenas das pessoas que usavam os aplicativos, mas de toda a sua rede social também. Esses dados, então, eram usados para focar em pessoas com base nas suas personalidades para fazê-las pensar de uma maneira específica.

Como outras gigantes tecnológicas foram atingidas?

Google e Amazon não sairão impunes. Apesar de não estarem envolvidas diretamente nesse escândalo, todas as gigantes tecnológicas têm toneladas de dados sobre todo mundo. É assim que as empresas de tecnologia operam: elas usam dados para dar aos usuários uma experiência melhor com base nas suas necessidades e personalidades específicas. Mas há um lado ruim nisso;

Recentemente, os dados se tornaram o recurso mais valioso do mundo, ultrapassando o petróleo. O que tornou as empresas tecnológicas as mais ricas e poderosas do mundo. Google e Amazon, assim como Facebook, têm grande acesso aos nossos dados e não há como saber como são usados.

Todas afirmam ter grande segurança e que estamos em boas mãos, mas nós, como população, precisamos ter cautela. Sem leis adequadas para prevenir nossos dados de serem feridos, só podemos depender de nós mesmos para garantir que nossos dados não estão sendo mal utilizados.

Aqui está um artigo de 3 minutos do The Guardian sobre o escândalo da Cambridge Analytica, com o whistleblower Christopher Wylie.

As perspectivas de Privacidade Hackeada: escândalo de dados pelo olhar documental

Privacidade Hackeada é o documentário do momento do Netflix em 2019. Privacidade Hackeada detalha o escândalo da Cambridge Analytica através de diferentes perspectivas.

Os principais protagonistas do documentário são jornalista Carole Cadwalladr, que ficou famosa por expor o escândalo dos dados, e David Carrol, que agora é conhecido como o professor universitários que processou a CA por não fornecer acesso aos dados dele.

Os antagonistas são as poderosas corporações de tecnologia do escândalo: Facebook e Cambridge Analytica. Sem dúvida, Alexander Nix, o CEO da Cambridge Analytica, é o Darth Vader do escândalo. Apesar disso, nem toda a CA é vista como vilã.

O documentário foca em Brittany Kaiser, ex-funcionária da Cambridge Analytica, que criticou duramente a má conduta da CA. Ela é a mais conhecida como a whistleblower, a delatora. Ela não foi a única delatora. Um ex-consultor de dados, Christopher Wylie, também chegou às notícias por expor as motivações secretas da CA.

 foco de Privacidade Hackeada não é na proteção dos direitos aos dados

Como documentário, Privacidade Hackeada fez seu trabalho ao motivas as pessoas a fazer algo a respeito de seus dados. O documentário expôs o quão poderosos são os dados e como as empresas estão usando nossos dados para controlar nosso futuro.

Como é mostrado no documentário, a SCL, empresa mãe da Cambridge Analytica, trabalhou em mais de 100 campanhas políticas em 30 países no mundo por anos. Só quando se soube da influência da Cambridge Analytica na campanha Leave.eu na votação do Brexit e na eleição de Trump em 2016 que as pessoas começaram a conversar sobre o assunto.

Tanto o escândalo da Cambridge Analytica quanto o documentário focam meramente na política. E em como nosso mundo está se tornando antiético politicamente, porque a monopolização de dados significa que talvez nunca mais tenhamos eleições justas. Documentários servem para mover as massas e chocar as pessoas sobre a realidade corrupta. Privacidade Hackeada não é diferente. O documentário é cativante, provoca ideias e causa raiva. Mas, apesar de o documentário ter muitas pessoas envolvidas de lados diferentes do escândalo, parece que não houve uma crítica maior.

O documentário poderia ter direcionado mais a atenção ao papel das gigantes tecnológicas com relação aos direitos de dados. Em vez disso, resolveu focar somente em criticar a Cambridge Analytica e romantizar a delatora, Brittany Kaiser, como a “heroína” que mudou de ideia. Precisamos lembrar que, apesar de ser um documentário, Privacidade Hackeada pode ter uma agenda própria.

Nem a Cambridge Analytica ou a SCL inventaram a monetização de dados pessoais. Como o COO da CA, Julian Wheatland, afirmou:

“Era fato que haveria de ter uma Cambridge Analytica. Só é ruim para mim que tenha sido a Cambridge Analytica”.

Monetizar dados é a única maneira que as empresas de tecnologia como Facebook e Google encontraram para darem lucro. Afinal, como essas empresas de bilhões de dólares poderiam oferecer uso gratuito de suas plataformas? Elas dependem de anúncios e esses anúncios precisam de dados de usuários para serem bem-sucedidos. Isso é definido como capitalismo de vigilância.

Shoshana Zuboff, autora do livro The Age of Surveillance Capitalism define capitalismo de vigilância como a comodificação de dados pessoais. Como ela descreve nessa fala: “nossos futuros estão sendo vendidos e comprados em um novo tipo de mercado de comportamento”.

O que Privacidade Hackeada deixou de fora foi exatamente esse fenômeno. A operação de empresas gigantes de tecnologia é baseada no acúmulo de dados. Então, não deveria nos surpreender que uma empresa como a Cambridge Analytica se aproveitou disso, mas deveríamos pensar em como mudar a operação de grandes empresas tecnológicas.

Para mais pensamentos sobre capitalismo de vigilância e Privacidade Hackeada, veja este artigo da Vice.

Agora que você está sem esperança alguma, vamos falar sobre o que pode ser feito sobre a exploração de dados.

Como se proteger da exploração de dados

A proteção dos seus dados ainda não está totalmente perdida.

Duas maneiras simples de começar é parar de ter ingenuidade e preguiça quando o assunto é seu relacionamento com tecnologia. 

1. Ingenuidade: deixar sua tecnologia obter seus dados é inegavelmente útil e eficiente. Por isso que o Google Maps nos leva aos lugares, em vez do bom e velho senso de direção. Entretanto, você não pode presumir que todos os aplicativos e empresas só usam seus dados para fornecer uma boa experiência. Lembre-se que seus dados são incrivelmente valiosos.

2. Preguiça: sabe aquelas atualizações que você fica ignorando? Bem, na verdade, você está ficando mais vulnerável a ataques de hackers. Aqui estão dicas práticas para proteger seus dados pessoais.

Empresas também estão buscando maneiras melhores para proteger dados dos usuários.

A JAYA, como uma pequena empresa de desenvolvimento de software, foca em tecnologia para qualidade de vida. Temos orgulho em usar dados da maneira mais empática possível. Sabemos quão intimidadoras a inteligência artificial e grandes empresas tecnológicas podem ser. Por isso que dedicamos nosso tempo para proteger seus dados e construir um relacionamento mais autêntico com as pessoas ao nosso redor.

Nosso produto, Keybe, nos ajuda a proteger os dados de clientes e de quem se conecta a eles. Estamos de acordo com o maior padrão de proteção de dados do mundo, a Regulação de Proteção Geral de Dados Europeia (GDPR). Levamos nossos dados a sério.

UseCrypt é uma startup israelense-polonesa fundada em 2015 para, verdadeiramente, criptografar seus dados. UseCrypt é um aplicativo de mensagens dedicado a fornecer aos usuários privacidade completa, nas mensagens de texto e chamadas de voz. Eles usam uma estratégia única que não armazena dados, mas usa a nuvem e armazena as mensagens em um espaço criptografado que só os usuários podem acessar.

Por não vender dados como o Facebook e o Google, o UseCrypt só pode ser financeiramente apoiado pelos usuários.

O futuro: direitos de dados são direitos humanos

Estamos vivendo em uma nova era em que seus dados estão sendo usados contra você. Você sequer sabe como seus dados estão sendo usados ou quais empresas estão usando.

Lembra do Myspace? Nexopia? Neopets? Desde que você começou a usar a Internet, seus dados estão lá.

A parte boa é que estamos acordando. O escândalo da Cambridge Analytica mostrou como muitas empresas de tecnologia operam.

Depois do escândalo, 2018 se mostrou ser um grande ano para proteção de dados. Em maio de 2018, a Europa implementou a Regulação de Proteção Geral de Dados Europeia (GDPR) e, em dezembro, os EUA foram atrás com o Data Care Act. Essas regulações estão responsabilizando as empresas de tecnologias pelos dados dos usuários. Já está acontecendo, mas ainda não é suficiente.

Precisamos mudar como vemos os dados. O conceito de “capitalismo de dados” corrompeu nossa visão da sociedade. Os direitos dos seus dados são direitos humanos e, até mudarmos como nossos dados são tratados, nossos direitos não estarão protegidos.

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